10/27/2021
1º Seminário Brasileiro de Filtros faz análise do mercado de filtros industriais
Aplicações, tipos de filtros e manutenção foram temas abordados no primeiro dia do evento.
Durante o 1º Seminário Brasileiro de Filtros, promovido pela Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas – Automotivos e Industriais, no dia 19 de outubro, via plataforma digital, os filtros industriais foram tema do primeiro painel, apresentado por especialistas e profissionais que fizeram uma ampla abordagem do assunto.
A primeira palestra foi sobre “Filtração Hidráulica e suas aplicações”, ministrada pelo engenheiro Daniel da Silva Costa, da Bosch Rexroth, que representou José Roberto Píccolo, gerente de distribuição industrial e filtração da Bosch Rexroth. Ele explicou que a filtração hidráulica é utilizada em diversas aplicações industriais, como em prensas, injetoras, unidades hidráulicas de siderurgia, entre outras e também em veículos pesados, como escavadeiras e caminhões fora de estrada, e requer cuidado para não se tornar um processo oneroso. “Mais de 70% de todas as falhas do sistema de filtração hidráulica são resultados diretos de contaminações, segundo a experiência de projetistas de sistemas de filtração hidráulica. O custo resultante da contaminação é impressionante já que causa perda de produção, gastos com reposição de componentes e fluido, desgastes, aumento de taxa de sucateamento e dos custos de manutenção”, afirmou Costa. Segundo o engenheiro, programas ineficientes de controle de contaminação resultam ainda no aumento do custo total de propriedade, ou seja, do custo para manter o equipamento em funcionamento.
Sobre o fluido hidráulico disse que é um meio para a transferência e controle de potência, e deve contar com várias propriedades, entre elas, rápida liberação de ar, baixa tendência de formação de espuma e volatilidade, boa capacidade e condutividade térmica, viscosidade adequada, estabilidade de cisalhamento, estabilidade oxidativa, controle de corrosão, baixa toxidade quando novo ou decomposto, e auxiliar na remoção de contaminação.
Destacou diversos tipos de contaminação na filtração hidráulica: partículas sólidas que provocam danos por abrasão, desgaste e falhas de componentes; contaminantes líquidos que ocasionam desgaste por corrosão, alteração de viscosidade, influência nas propriedades lubrificantes, reação química com fluido e envelhecimento do óleo; e contaminantes gasosos que formam espuma no óleo, geram resposta imprecisa das válvulas, perda de energia, danificação na bombas, reação química com fluido e oxidação, e todos contaminantes causam redução da disponibilidade da máquina. “As contaminações podem estar contidas nos processos de manufatura e produção, como, por exemplo, na usinagem, solda e pintura; geradas pelo colapso do fluido ao percorrer o sistema; provenientes da parte externa, como dos filtros de ar e vedação de rolamentos; ou introduzida durante a manutenção, como na desmontagem e montagem e no abastecimento de óleo”, esclareceu.
Com relação aos desgastes ocasionados nos sistemas hidráulicos e de lubrificação afirmou que podem ser abrasivos, quando partículas entram no espaço entre duas superfícies móveis, grudam em uma delas e atuam como ferramentas de corte, removendo o material da superfície oposta. “Para proteger faces opostas do desgaste, as partículas de tamanho aproximado à faixa de folga dinâmica devem ser removidas”, advertiu. Já desgastes erosivos são quando partículas se impactam e danificam as superfícies dos componentes pela remoção do material, ocorrem em áreas onde há velocidade de contaminação muito alta. “É a principal causa de vazamentos em válvulas hidráulicas de carretel”, comentou. Os desgastes adesivos ocorrem quando há cargas excessivas e desgastes por fadiga de superfície quando partículas sólidas presas danificam repetidamente os componentes, resultando em rachaduras e danos. “Lascas criam mais sujeira dentro do sistema”, disse.
Falou também sobre o tamanho das partículas contaminantes, indicado com a unidade do micrometro, enfatizando que as partículas mais danosas para sistemas hidráulicos não podem ser reconhecidas a olho nu e que para otimizar a confiabilidade de um sistema, os requisitos de filtração devem ser baseados no componente mais sensível, como a servo válvula, por exemplo.
Para quantificar com precisão a contaminação, explicou que há diferentes normas, como a Classe NAS 1638, descontinuada em 2001, mas ainda utilizada, a Classe SAE AS4059 e também a Classe ISO 4406.
Sobre os materiais dos meios filtrantes, citou malha metálica, celulose, fibra de vidro e fibra de vidro com várias camadas, cada um com suas particularidades em eficiência de captura, capacidade de retenção de contaminantes e tempo entre manutenções. Já sobre a importância da localização dos filtros, que pode ser diversificada, como filtro de retorno de topo de tanque, de preenchimento, de respiro, de sucção, bomba e trocador de calor de linha de alta pressão, Costa destacou que dependerá muito do tipo de aplicação e da filosofia de manutenção e que cada um apresenta vantagens e desvantagens.
Para identificar o momento exato da substituição do elemento filtrante, apontou para o uso de um indicador de saturação, que pode ser visual, elétrico ou ambos.
Para concluir sua apresentação, o engenheiro ressaltou fatores relevantes no processo de filtração. “Você não pode gerenciar o que você não monitora e você não pode monitorar o que você não mede”, disse Costa, lembrando que programas de manutenção “gerenciados” são fundamentais para a confiabilidade dos sistemas hidráulicos.
Filtros industriais: tipos e aplicações
Tela, peneira ou grade, eliminador de poeira ou demister, de profundidade e de superfície ou torta. Estes foram os tipos de filtros mencionados por José Alexandre Marques, diretor da JAM Treinamentos, na palestra “Filtros industriais: tipos e aplicações”, durante sua participação no primeiro painel dedicado aos filtros industriais do 1º Seminário Brasileiro de Filtros, evento promovido pela Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas – Automotivos e Industriais, via plataforma digital. Segundo o palestrante, telas podem ser estacionárias em linha, horizontal ou vertical como nos filtros de grade inclinada, filtro de entrada ou captação, usados em açudes e represas; com movimento contínuo vertical, inclinado ou tambor rotativo – filtro de tambor rotativo ou de grade elevatória, utilizados também em captação de água e represas; e com movimento oscilante vibratório ou giratório, como nos filtros de peneira vibratória, usado em processo de ouro e filtro giratório de peneira vibratória, usado em mineração, refino de sais e pasta de amido.
Os filtros tipo demister separam gotículas de líquido do fluxo de meio gasoso e podem ser usados em filtração de gás natural e vapor de água de mar, por exemplo. Já os filtros de profundidade, produzidos principalmente com polímeros, celulose ou vidro, separam partículas sólidas e são utilizados como clarificantes de soluções. Podem usar areia, como no filtro leito de areia, e outros elementos filtrantes como carvão ativado, resina de troca iônica, zeólita, alumina ativada e sílica gel. “Para abrandamento de água usam resinas de troca iônica”, comentou Marques.
De acordo com o diretor da Jam Treinamentos, os filtros, quanto à superfície ou torta, podem ser a vácuo, à gravidade ou pressurizados. “Um dos mais antigos filtros a vácuo é o Nutsche - funil Buchner, utilizado em bancada de laboratório, funil com placa porosa, pode ter agitador para melhorar a qualidade da torta”, explicou. Ainda segundo o palestrante, também há outros tipos de filtros, como o filtro de lona a vácuo, com grande bandeja com lona, onde se descarrega a pasta, homogeneíza na superfície e gera o vácuo, resultando na torta meio seca e permitindo o reaproveitamento do fluido, bem utilizado em mineração e papel e celulose; filtro de placas a vácuo com telas metalizadas, lona filtrante, emerge dentro de banho, provoca o vácuo e remove o material, usado em filtração de dióxido de titânio; filtro basculante de panela a vácuo, que conta com mesa circular giratória com várias bandejas, onde se carrega a lama que circula no carrossel, há o vácuo, formação da torta, um giro de 180 graus em cada uma das bandejas, provocando a descarga da torta; filtro de tambor rotativo, onde a torta pode ser lavada ou não, seca e a torta sólida é separada do líquido, usado em filtração de carvão mineral; filtro de disco a vácuo, que conta com disco de tela, lona de meio filtrante ou malha polimérica, para a separação de materiais orgânicos e indústria química.
Citou também o filtro de gravidade, como o de esteira, e, para finalizar a sua apresentação, falou sobre os filtros pressurizados, como os filtros tipo cesto, autolimpante, bag, de vela, de cartucho e de cápsula, entre outros. “Os filtros pressurizados são amplamente utilizados nas indústrias de processos”, comentou. Há também filtros pressurizados de pré-carga, de placas horizontais, de tambor rotativo pressurizado, prensa, de placas, tubular com alta pressão, de lona vertical e de rosca.
Influência dos filtros para a saúde
Em sua apresentação “A importância dos filtros de ar para a saúde”, Paul G. Cleveland, diretor geral da Camfil Lationamericana, falou sobre a importância dos cuidados com o ar. Ele explicou de maneira didática como diferentes partículas suspensas no ar são absorvidas pelo organismo via respiração e de que maneira os sistemas de tratamento eliminam esses contaminantes prejudiciais à saúde, como vírus, bactérias, gases e compostos químicos. Segundo o executivo, diferentes estudos já relacionam doenças, como câncer de pulmão, problemas cardíacos e até mesmo o Alzheimer, à poluição.
Ainda acrescenta que dados da OMS de 1999 revelam que o ambiente interno pode ser 50 vezes mais poluído que o externo, um risco mil vezes maior de inspirar partículas nocivas. “A cada respiração, inspiramos 25 milhões de partículas e, como ficamos 90% do nosso tempo dentro de um ambiente fechado, expostos a ar-condicionado, por exemplo, não dá para negligenciar o impacto dessas moléculas em nosso organismo”, explica.
Portanto, o uso de filtros de ar em ambientes internos torna-se cada vez mais importante, principalmente em face aos danos causados à saúde por conta da absorção de micropartículas. Neste sentido, os filtros moleculares têm se mostrado bastante eficientes nesse processo, inclusive na mitigação dos riscos de transmissão da Covid-19.
Para finalizar a sua participação, Cleveland reforçou a importância da manutenção adequada dos sistemas de tratamento de ar e ofereceu um modelo financeiro de como escolher o melhor equipamento. “É importante sempre avaliar a eficácia energética e adotar uma solução que exige menos troca de calor”.
Ao final do primeiro painel do evento, iniciou-se um momento de debate com perguntas e comentários sobre as apresentações, atividade conduzida pelo mediador Eng. Alex Alencar, diretor da Engefluid e vice-presidente do Setor Industrial da Abrafiltros.
Durante o debate, pontos relevantes para o setor de filtração foram abordados, como a utilização dos indicadores de saturação na filtração hidráulica, o que segundo Daniel da Silva Costa da Bosch Rexroth “é fundamental, pois o elemento filtrante vai ficando comprometido com o tempo e o indicador de saturação mede a perda de carga, identificando o fim de sua via útil”. Ainda segundo Silva, “quando a válvula by-pass abre, o indicador acusa que a filtração não está sendo mais efetiva, neste momento o indicador mostra a hora da troca, especialmente, em aplicações industriais quando é impossível usar o tempo como fator para a substituição do elemento filtrante”, disse.
Alencar questionou também os palestrantes, sobre os motivos da não lavagem de filtros de fibras. “Quando se lava o elemento filtrante de profundidade com determinada espessura é difícil remover o particulado que chega até a superfície interna”, esclareceu José Alexandre Marques, diretor da JAM Treinamentos, que apresentou a palestra “Filtros industriais: tipos e aplicações”.
O mediador do debate ressaltou que é fundamental consultar o fabricante do filtro para entender como é a manutenção e o limite da aplicação do elemento filtrante.
A comercialização de elementos filtrantes relacionados à Covid e os cuidados das empresas com a manutenção de filtros de ar-condicionado foi a questão levantada por Marco Antônio Simon, responsável pela coordenação do programa Descarte Consciente Abrafiltros, de logística reversa de filtros usados do óleo lubrificante automotivo e gestor de projetos da Abrafiltros. “A preocupação em diversos segmentos já está nos projetos, na hora da instalação. Por isso, no geral, não tem ocorrido demanda maior em indústrias de alimentos e farmacêuticas porque já contam com os equipamentos necessários para filtração fina, já estão adequados para eventualidades deste tipo”, explicou Paul G. Cleveland, diretor geral da Camfil Latinoamerica, que ministrou a palestra “A importância dos filtros de ar para a saúde”. Para ele, nos hospitais, há a possibilidade de maior demanda.
Outra questão abordada durante o evento, foi sobre a existência de alguma estratégia para que sejam difundidos conceitos de filtração aos usuários leigos. “Há alguns anos, a Abrafiltros promove encontros técnicos e, também agora, com o Abra Talks, buscamos trazer profissionais para apresentar dados e informações mais detalhadas sobre o setor de filtração. Podemos dizer que a responsabilidade dessa capacitação é compartilhada com a própria indústria e nesse sentido, estaremos sempre em sintonia e atentos a evolução de máquinas, equipamentos e principalmente acompanhando a inovação tecnológica de muitos processos”, afirmou Adriano Bonazio, gerente de comunicação e marketing da Abrafiltros.
Para o mediador Alex Alencar, até devido a questões comerciais, os fabricantes têm a preocupação de levar a informação para os usuários. No entanto, alguns usuários ainda acreditam que o filtro é um problema porque entope. “O custo é razoavelmente baixo do elemento filtrante, em torno de 8%, se for comparado com o da disponibilidade da máquina”, advertiu.
Sobre a Abrafiltros:
Criada em 2006, a Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas – Automotivos e Industriais – tem a missão de promover a integração entre as empresas de filtros e sistemas de filtração para os segmentos automotivo, industrial e tratamento de água e efluentes – ETA e ETE, representando e defendendo de forma ética os interesses comuns e consensuais dos associados.
Mais informações:
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